Para aquelus que sofrem com a Síndrome de Salvadore.
Você também já foi dessas pessoas, ou ainda é, extremamente prestativa? Diz sim para tudo? Mesmo quando você não sente o sim? Pois é, acho que este texto é para você, embora seja sobre uma vivência aqui, minha.
Eu sempre fui disposta, eu acreditava que se eu desse tudo para o outro, independente do que fosse, eu estaria sendo boa, boa o suficiente para o outro e para mim. Mas, lá no fundo algo gritava dentro de mim me mostrando que a história não era bem assim, e o quão negligente eu estava sendo com a pessoa e comigo mesma.
Desde muito pequena aprendi algo como sempre ser muito solícita. E fui construindo essa personagem extremamente prestativa que qualquer um poderia contar em qualquer momento, mas, e quando era a minha vez?
A verdade é que eu tenho uma maneira de me movimentar que é muito servil, e precisei romper com esse estigma da forma mais dura possível e dolorida, e ainda estou rompendo.
Quando se aprende dentro de casa que a mulher é quem se coloca a disposição do homem, aquela que cuida de casa, aquele que se dedica aos filhos, você vai notando que o buraco é mais em baixo.
Mas, eu ainda muito nova já questionava esse padrão, dizia desde cedo que não queria ter filhos, muito menos me casar. Meus pais? Diziam, “bata na boca três vezes, e jamais diga isso!”. Eu não sei, sempre me incomodou a ideia do servir por servir, mas eu aprendi, e me coloquei dentro desse padrão durante toda uma parte de minha vida, de diferentes formas.
Porque, por mais que não fosse a dona de casa, eu era em meus relacionamentos interpessoais a mãe, a salvadora, logo, a mulher servil.
Hoje, eu compreendo a necessidade de largar essa moça, e é muito difícil quando você se acomoda nesse papel, é muito difícil quando estabelecem essa imagem a você, a que deve ser a mulher salvadora, cuidadora, e etc.
Existem inúmeros exemplos da servidão feminina, como a mãe dedicada, a filha exemplar, a mulher que serve ao trabalho, a que vira aquela famosa e serve aos fãs, ou seja, nós mulheres estamos sempre servindo, consciente ou inconscientemente.
Logo, não é um estereótipo que acabará do dia para noite, mas quando você ganha a consciência dele… É um caminho sem volta, você não olha para trás, você vira tua direção para frente, e serve a si mesma, na medida do possível.
Não estou aqui para idealizar a situação de largar tal papel, até pela profundidade que o mesmo está encrustado no meio em que vivemos, e em nossos pensamentos e movimentações cotidianas. Mas, vir aqui dizer que não nos cabe mais o papel de mulher servil, é necessário para que possamos abrir espaços para uma nova narrativa dentro do que nos cabe.
Logo, hoje falando por mim, tenho sentido a necessidade de ruptura com o poder que me coloca em tal posição, e ainda que em pequenos passos, eu o olho nos olhos, ergue a cabeça, e digo o tal esperado não, que não dizia antes. Esse é o primeiro passo, aprender a dizer não.
E que nossos limites sejam respeitados, e que nós possamos respeita-lo.
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